Eles dividiram o Brasil
Traçaram linhas na poeira,
como se a terra fosse
tabuleiro mudo,
ao efeito clandestino
de mentes mentecaptas.
Se não bastasse a solidez
do ódio embalsamado,
mudaram o sentido
da bandeira patriota,
cortando vias saudáveis,
ferindo o sulco do tudo.
Eles mapearam mentiras
em fronteiras secas,
roubaram a essência
das aldeias antigas,
plantaram medo nos simples
e, nos desfiles jocosos
de pensamentos traiçoeiros,
selaram pactos desfigurados.
O Brasil - nosso país altaneiro -,
que era um vasto abraço,
virou retalho de posse e disputa.
Eles — com suas penas de aço —
assinalaram a paz,
mas venderam a discórdia.
Não obstante, com o aval
da verdade necessária,
nesse chão demarcado
nascem sementes que vingam.
O vento ri dos riscos cavilosos
e assopra a maldade,
que se evapora no ar.
Nesse refrão solidário,
quando a noite estrelada
encobre as fronteiras,
as vozes cruzam o espaço,
no silêncio do amor...
Afinal, quem poderia conter
o sentido das cores,
que tremulam verdadeiras
no florão dessa Terra,
que abarca um povo inteiro
dentro do verbo sonhar?
Eles dividem e afastam,
mas o mar não obedece
e une as florestas
na maré da esperança!
Eles odeiam e matam,
mas o amor sobreleva
e não se esquece de nós,
pois mora na pele,
na língua, na dança.
Cansados de muros,
os passos se encontram
nas trilhas abertas
de um povo guerreiro.
Os olhos cansados
de tanto confronto
refazem o mapa
em sonho e quietude.
Enquanto a maldade
conta o ouro da corrupção,
nós cantamos histórias,
sementes, abraços.
Se armam torres arcaicas,
de mentiras idólatras,
desarmamos essa guerra
em passos-verdade.
É hora de recolher essa linha,
quebrar o compasso —
esse mapa não cobre
o pulso da gente.
Esse muro é ruína,
esse cerco é degredo,
mas o sonho é um rio
que corre potente.
Nós somos as vozes
que rasgam fronteiras,
as mãos que derrubam
os portões de aço.
Esse Brasil imposto é contrato —
o nosso é bandeira de pele,
de riso, de abraço e espaço.
Dividiram o Brasil?
Pois cuspimos o traço!
Remendamos a terra
no ventre da história.
O Brasil é nosso —
é canto, é luta de afeto,
é luz, é vitória.
Em rito solene
inscreve seu nome
nos sulcos sadios
da nossa memória!
🇧🇷✨
Sílvia Mota
Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 6 de julho de 2025