Piquete — a Cidade Paisagem
Nasci nessa terra dos sonhos,
entre os montes serenos,
sob um céu bordado de estrelas.
No paraíso da saudade,
o tempo corre devagar,
feito um riacho
que sussurra memória...
Em cada esquina,
persiste um pedaço aceso
da menina que fui.
O vento afinado
não esqueceu meu nome.
As árvores assanhadas
escondem meus segredos
e as manhãs douradas
ainda cantam e encantam
os juramentos eternos
insuflados pela minha pureza.
O tempo passou e doeu,
mas não me quebrei ao vento —
sou força que se apruma
no som surreal
do bambuzal que norteia
a casa da minha infância.
Aos poucos, pouco a pouco,
aprendi a dançar sem me dobrar
ao choro dolorido
das perdas e decepções.
Hoje, sou memória dos meus,
o sol das montanhas
e o silêncio das madrugadas
que guardam lembranças.
Entre o cenário da infância
e a força da mulher,
sou lágrima candente,
sorriso apaixonado,
pertencimento sagaz
e resistência indulgente.
Piquete — esse abraço antigo,
essa raiz forte e destemida,
presa ao solo-mãe que me deu nome
e aos sonhos que me deram asas.
Se me arrancaram de ti,
trouxe comigo o teu chão,
porque sou feita de história,
de saudade,
de sol
e tempestade!
Sílvia Mota
Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2025 - 22h20