Esse teu olhar
Ó olhar… ó Mistério, ó Amado!
Tua chama é o início e o fim.
Não apenas vê —
dissolve o véu e abre o abismo.
Não apenas toca —
rasga as sombras e acende estrelas.
Não apenas passa —
grava eternidade na carne do instante.
Ó olhar… ó Mistério, ó Amado!
Tua chama é o início e o fim.
Quando pousa,
muralhas desabam fatigadas,
respiração se faz oceano convulso
e a alma implora naufrágio no mar sem margens...
Nada resta senão a vertigem,
nada resta senão o mergulho...
Ó olhar… ó Mistério, ó Amado!
Tua chama é o início e o fim.
Escritura não escrita —
cifra que só o coração decifra.
Verso que não cabe em boca humana.
Os segredos
dormem nas pupilas,
enquanto o silêncio
desperta na luz secreta.
Ó olhar… ó Mistério, ó Amado!
Tua chama é o início e o fim.
Templo e profanação.
Sol que consome.
Lua que consola.
Lâmina de veludo —
ferida doce que eterniza,
oferenda que incendeia o altar,
canto que desperta o deus adormecido.
Ó olhar… ó Mistério, ó Amado!
Tua chama é o início e o fim.
No círculo hipnótico que envolve,
o mundo cessa
e o tempo se curva.
Só resta o Infinito,
incandescente e inteiro,
no breve intervalo
entre teu piscar
e minha entrega.
Ó olhar… ó Mistério, ó Amado!
Tua chama é o início e o fim.
Modalidade: Dhikr poético
Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2025 - 23h56